Há
explicações científicas para as vontades das grávidas: segundo a
nutricionista Marta Yuri Uchida Fernandes, do Hospital Israelita
Albert Einstein, de São Paulo, os desejos esquisitos são desordens
alimentares que ocorrem no período de gestação denominados
picamalácia ou pica. "A picamalácia caracteriza-se pela
ingestão de substâncias com pouco ou nenhum valor nutritivo,
comestíveis ou não. A explicação para os desejos ainda é pouco
compreendida, porém, sabe-se que fatores emocionais, culturais,
socio-econômicos, ambientais e também fisiológicos, como alívio
de sintomas digestivos, estão associados a eles", explica a
especialista.
A pagofagia (ingestão de gelo), geofagia
(ingestão de terra ou barro) e as miscelâneas (combinações
atípicas como melancia com margarina ou tomate com chocolate) são
as vontades mais comuns na picamalácia. "No entanto, o desejo
por substâncias não alimentares como carvão, sabonete, tinta,
borra de café, bolinhas de naftalina, plástico, giz, entre outras,
também pode ocorrer, mas são perigosas”, conta Tatiane Muniz de
Oliveira, nutricionista do Hospital Albert Einstein.

Como
a maior parte das grávidas teme prejudicar o desenvolvimento do
bebê, alguns dos desejos esquisitos tidos como muito perigosos
–ingerir tinta ou naftalina, por exemplo– ficam somente no plano
da fantasia. Entretanto, vale a pena conversar com o médico sobre
eles, pois os desejos podem estar associados a vários transtornos,
como anemia, constipação, distensão, problemas dentários,
infecções, interferência na absorção de nutrientes, hipercalemia
(grande quantidade de potássio no sangue) e envenenamento por
chumbo.
"Ao diagnosticar a deficiência de determinado
nutriente, através de exames, o obstetra será capaz de prescrever a
devida suplementação à gestante", diz a nutricionista Marta
Fernandes. Alguns casos nem precisam de uma análise mais profunda:
"Vontade de comer terra indica deficiência de ferro",
exemplifica o ginecologista Rodrigo Hurtado, da Clínica
Origen.
Ainda segundo Rodrigo, o aumento dos hormônios
progesterona e estrógeno provocam mudanças na sensibilidade
olfativa (que afeta o cheiro e o gosto das coisas), o que leva a
mulher a sentir uma vontade incontrolável de devorar algo que até
então detestava. As mudanças hormonais também diminuem o pH do
meio bucal e a capacidade tampão (propriedade da saliva de manter
seu pH constante), o que causa a salivação excessiva. E justamente
aquele alimento odiado pode ajudar a diminuir esse desconforto. Isso
explica ainda o impulso para chupar gelo ou ingerir alimentos ácidos
como limão, que aplacam náuseas e enjoos.
Muitas pessoas, em
diferentes sociedades, creem que os desejos das grávidas devem ser
atendidos, para que a criança não nasça com nenhuma marca, e que
as cores dos alimentos –desejados, porém não ingeridos– podem
"manchar" o bebê. Tais crenças devem ser desmistificadas.
Mas o obstetra sempre deve ficar ciente de qualquer anseio, por mais
bizarro que pareça aos olhos alheios. "Só ele pode verificar
se as vontades são apenas extravagâncias alimentares ou se excedem
o limite da normalidade, tornando-se algo prejudicial ou patológico",
afirma Tatiane Muniz de Oliveira, nutricionista do Hospital Albert
Einstein.
Fonte: Uol
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